Treze anos de trabalho em agências de publicidade, muitos eventos no currículo e nenhuma grande história para contar. Cinco anos depois dos 30, a crise bateu às portas de Daniela Arruda. “Fazia milhões de eventos, gigantes, caríssimos, mas não fazia nada de bom para o mundo”, conta. Foi então que ela se demitiu do trabalho e começou seu pequeno projeto de mudar o mundo. Primeiro, passou a distribuir comida para moradores de rua; depois, a visitar abrigos. Mas foi com um pedaço de feltro e uma presilha tic-tac que a publicitária encontrou sua verdadeira vocação.

Com um adereço de florzinha na cabeça, se candidatou para dar oficinas no GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer). “A ideia era fazer presilhas, mas quando cheguei lá vi que muitas meninas estavam carecas por causa da quimioterapia. Foi então que desenvolvi uma tiara com flores, que as meninas chamam de tiara para careca”. Nas oficinas semanais, Daniela descobriu que, para as crianças, é muito mais difícil estar careca do que ter cancêr. “A careca é visível no espelho, já a doença, não”, conta. “No começo, elas chegavam com chapéus, lenços, toucas e até perucas, mas hoje, por causa das tiaras, assumem as carecas e se acham bonitas”. Atualmente, sua empresa, a Menina Flor (www.meninaflor.art.br), produz cerca de 4 mil adereços por mês. Mas e aquela história de mudar o mundo? “Hoje eu tenho a consciência que eu não sou capaz de mudar tudo, mas sei que posso fazer com que as crianças que estão passando por esse período tão difícil tenham duas horas de alegria. Eu não consegui mudar o mundo, mas consegui mudar a minha vida”. E de tantas meninas também, pelo menos todas as sextas, das 10 ao meio-dia. Faça chuva ou faça sol, lá vai a tia Dani recortar flores – e sonhos – coloridos.

Revista N Magazine – verão 2010/2011

Texto: Renata Gallo

Foto: Erika Verginelli